segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

"- E assim acabou - disse. E viu que nos olhos dele se apagava o interesse pela história, enquanto outra coisa tomava seu lugar: algo pálido e indagador, como o reflexo de uma luz, o fez olhar, maravilhado, diretamente à sua frente. Voltando-se, ela percebeu que do outro lado da baía chegavam regularmente, por sobre as ondas, primeiro dois rápidos feixes de luz, e depois outro, longo e firme. Sem dúvida, era a luz do Farol, que tinha acendido.
Dali a um instante, ele lhe perguntaria: 'Nós iremos ao Farol?' E ela teria de responder: 'Não, amahã não. Seu pai disse que não." Felizmente, Mildred veio buscar as crianças, e o alvoroço os distraiu. Mas ele continuou a olhar pra trás, por cima do ombro, enquanto Mildred o levava. E a Sra.Ramsey tinha certeza de que o menino estava pensando: nós não iremos ao Farol amanha, e imaginou que ele se lembraria disso por toda a vida."

Rumo ao Farol, Virginia Woolf.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Nota

Estou tendo lepsos lingüísticos constantemente.

Do mundo e de suas palavras

O que mais tem estado na minha cabeça nas últimas três semanas tem sido o mundo como comunicação. Na verdade, esse pensamento já tem me consumido há alguns anos, mas, nos últimos tempos a que me referi, tem tomado um tom obscuro. A comunicação vista como um tipo-ideal weberiano é uma ilusão. O que existe são apenas entes isolados recheados de idiossincrasias cada vez mais idiossincráticas por dentro que não conseguem, e sequer percebem que não conseguem, estabelecer a comunicação com o mundo. Fato, alguns tentam e se iludem quanto a isso e lidam bem com isso. Ouros, carecem de certas propriedades expressivas ou simplesmente nem se sentem a vontade em relação ao ato de comunicar, e, dessa forma, acabam se curvando cada vez mais para dentro de si mesmos. A imagem de pequenas caixas dançando no escuro, em cadência de ballet e passes de xadrez.
E, como diz Calvino, o mais amargo de tudo que pu/odemos nos permitir pensar: fora daqui não há mais nada.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Do mundo e do tempo

Between the click of the light
and the start of the dream
No Cars Go, The Arcade Fire

Sempre me recorre à mente a idéia a respeito da beleza que o tempo, por si só, consegue imprimir aos fatos. Olhar para trás e ver tudo o que agora é passado, e perceber a história nisso tudo. Vejo uma certa grandiosidade, como num desfecho de um livro muito longo, com os quais sentimos envelhecer ao lado dos personagens.
Pessoas também se tornam personagens, acontecimentos também se tornam narrativas: mas a história da vida de alguém só se torna história - aos olhos de qualquer um, e, principalmente dela própria -, quando o tempo se faz sentir. E é exatamente no momento em que só conseguimos conseguir viver olhando para o que vem a frente e repensando o que passou, que sentimos isso. É a sensação, cada vez mais intensa, de percurso. Um percurso no tempo.
Tenho pensado muito a respeito de marcas nas vidas das pessoas. Marcas como acontecimentos que, em dado momento, conseguem agregar em uma só condição nova, tudo o que já foi vivido, e, ao mesmo tempo, condicionar todo o porvir. Não são simplesmente ritos de passagem, pois esses são apenas marcas do próprio percurso. As marcas às quais me refiro são marcas da própria história, se é que é possível tal dissociação. Grandes acontecimentos definitivos e que, muitas vezes, são expressões fortes nos planos de vida que cada um - e de forma alguma todos - constrói.
Sinto o tempo, ao dar conta de produzir a história unindo pessoa, percurso, planos e marcas como construindo, também, o próprio mundo, de uma maneira incrivelmente delicada. O mundo é feito de idéias - fatos, indivíduos, estruturas, ocasiões e forças; mas só o tempo consegue imprimir a isso tudo o tom. O tempo é o mais belo compositor do mundo.

No Cars Go não é por acaso. É impossível não ouvir a música sem deixar vir isso que há escrito aqui à mente. Talves as notas, semi-elevadas, um tom de abertura, grandiosidade, como ao fim de um longo livro...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Do mundo e suas amarras

It doesn't touch me at all
It doesn't touch me at all
Wendy Time, The Cure


De repente, vem a mente uma certa amargura mesclada com certo arrependimento pre factoum consumum, de apenas pensar, o que estou fazendo com a minha juventude? Tenho inveja - nada corrosiva - quando vejo essas pessoas livres, que conseguem se desprender de seus compromissos - as atas mais visíveis que unem pessoas ao mundo - e se jogarem no mundo de outras formas. Aproveitarem a libertade, que prezo tanto, de uma maneira corajosa. É a porra dessas amarras dos compromissos e planos que vamos assumindo, que vamos construindo, que acabam por obstruir quaisquer outras possibilidades, vislumbres, vontades que dispersem nossa energia do caminho que escolhemos. É a amarra que vira forca, enforcando-nos com a corda do arrependimento.

E o pior é pensar que, daqui a uns vinte anos, a serenidade nos atingirá e que talvez não sentiremos pesar algum por isso que desperdiçamos. Talvez isso aconteça.

Quero trancar minha faculdade, deixar de lado todos os meu projetos atuais, adormecer meu curriculum, comprar uma passagem para qualquer lugar do mundo e despertar perdido em qualquer canto, longe de todo mundo, sozinho, andando, correndo nesse mundo, fugindo disso tudo que oprime a possibilidade da coragem vir a ser o meu principal tipo-ideal.

Do mundo e de suas peripércias

Num café, o frio lá fora, a xícara de cappuccino italiano sobre a mesa, o cigarro aceso, as pessoas caladas, ao redor...

"É certo que o custo a pagar é alto, mas devemos acertá-lo: não podemos distingüir dentre tantos sinais que passam por esse caminho, cada um com seu significado que permanece escondido e indecifrável, porque fora daqui não há mais ninguém capaz de encontrar-nos e entender-nos."

É aquela vontade de se isolar do mundo, não muito recorrente nas pessoas, que me atrai. O mundo nem sempre é o mesmo, mas o mundo, apesar de não esperar nada de você, se impõe, e, se quiseres participar dele, que se adeqüe. Fácil pensar que ninguém tem essa obrigação, mas, reclamações advindas de um isolamento não são justificáveis. O mundo não espera você, você vira o mundo. O isolamento me soa bonito até hoje, mas a maturidade impositiva nos obriga a relativizarmos tal proposição, se queremos adequação ao mundo, em certa medida.


É árdua a tarefa de ficarmos atentos ao futuro que vem pela frente. De qualquer forma, para os obstinados(não-sortudos), não resta nada a fazer. Aqui ressalto, mais uma vez, a importância de um certo individualismo metodológico (não exatamente metodológico, apesar de se referir ao trato que damos ao mundo). Os mundo com o qual nos depararemos quando o futuro chegar é possivelmente mensurável de acordo com nossas escolhas de hoje, visto que nossas escolhas individuais influem diretamente na construção do nosso mundo futuro individual. Como já disse antes, o grande problema é que essas escolhas estão pulverizadas no ar e difícilmente são perceptíveis. E, para complicar ainda mais, as escolhas são interpermutáveis e possivelmente influíveis, umas nas outras, o que acaba por criar uma gigante rede que nada mais é do que o nosso próprio mundo.


Pessoas brilhantes não são apenas aquelas fantásticas e elíticas (em contraposição ao termo elitistas). São pessoas que consegue combinar empenho (que é uma pura mescla de eficiência e determinação) com talento(no sentido mais simples que a palavra possa adquirir). Isso tudo porque, como a brilhancia é um atributo que emerge do mundo, não é possível desvincula-la desse, no sentido de que não basta, para alguém brilhante, ser empenhado se o mundo não lhe atribui reconhecimento pelo talento (que pode se expressar pela genialidade, pela criatividade, pela destreza, e por mais incontáveis formas), da mesma for que não há reconhecimento aos que se isolam do mundo, os não-empenhados, mas mesmo assim se vêem (porque o auto-reconhecimento é tudo que lhes resta) como talentosos. O mundo é uma comunicação imperativa e hiperativa constante, o que resta aos que têm objetivos perante ele é tentar se fazerem o mais compreensível possível.


O mundo dá espaço para as pessoas que querem ser completamente da forma como seus indivíduos imperam - quero ser assim, sou assim e ponto final. O mundo dá espaço para essas pessoas: fora dele. No entanto, o mais interessante é pensar que, mesmo fora do mundo, indíviduos desse tipo acabam sendo afetados das mais diversas maneiras quanto há pelo mundo. Você pode tentar traçar um vetor eu>mundo, mas ele sempre volta. Co-constitutividade absoluta, e nem sempre equilibrada, pois os indivíduos nao tem a capacidade de se imporem perante o mundo.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Poder Produtivo

Em Teoria das Relações Internacionais 2 estudamos vária novas concepções do poder no campo dos estudos internacionais. Um deles, o que eu mais gostei de pensar sobre, era o poder produtivo. Basicamente, focava-se em dois pilares pincipais: a linguagem (própria mente dita) e a sociabilidade (que também envolve linguagem, obviamente). É exatamente o poder produtivo que é percebido n a produção de discursos internacionais como, por exemplo, o rótulo "Eixo do Mal" cunhado pelos EUA após 11 de setembro para denominar os seus principais opositores: Irã, Cuba, Coréia do Norte e Síria. O sentido social do poder produtivo não é fácil de ser observado, e, devido à isso, tem ficado a margem de muitas análises. Em linhas gerais, a análise construtivista - princiapl corrente teórica que lida com esse tipo de poder - tenta explicar que as relações internacionais são sociais. Metaforicamente, poderiamos perceber, grosseiramente, os países como pessoas. Nesse âmbito, o poder produtivo é encontrado como a capacidade das relações sociais construírem o poder a partir da sua condição co-constitutiva. Enfim, basta de rel.

O que importa é que esse conceito sempre esteve na minha cabeça e, de um tempo pra cá, eu tenho observado ele "dentro de mim". Eu tenho reparado muito o tanto que eu me condiciono de acordo com os discursos que eu mesmo crio. E nem estou dizendo isso à respeito das minhas relações com outras pessoas ou outros grupos não, reparei isso mais em relação a mim mesmo. Coisas bem banais, mas que, ao final do dia fazem muita diferença. Tipo, hoje, voltando pra casa da UnB, me dei conta de um leve cansaço. Era realmente um cansaço leve, puramente físico, nada que um banho não restaurasse traqüilamente. No entando, minha mente se perdeu nessa idéia (óbviamente esse processo não me foi visível, só estou dando forma à ele agora). Eu desci ladeira abaixo pensando o quão casado estava. Chegando em casa, à hora de sentar e estudar, digo para mim mesmo, nossa, mas eu estou tão cansado hoje...E não consigo mais me livrar dessa teia que eu mesmo construí. Isso tem acontecido tanto comigo...

Fazendo as vezes de corretor

Então,

Quanto ao último post do blog do Beto, tenho algumas correções:

http://meioquedonada.blogspot.com/2008/11/digresso.html

Vamos lá,

1-Pinte, e não pimte. Segundo a norma culta da lingue portuguesa, não se usa m antes de qualquer consoante, a não ser se essa for um p ou um b.
2-Invente, e não imvemte. Ibidem.
3-Deixe, e não deiche. Conjugação no modo imperativo do verbo deixar, ou seja, o radical do mesmo é mantido.
4-Um erro de digitação(imagino): voc~e. A grafia correta e atenta aos dedos no teclado seria você, como bem sabemos.
5-Alto, e não auto. Adjetivo relativo à altura, e não à autura. Autista.
6-Ninguém, e não ninguén. Não existem palavras terminadas em n em português. A excessão de umas duas ou três que quase nunca são usadas.
7-Faça, e não fassa. Verbo irregular fazer, conjugado no modo imperativo.

Além dos erros desnecessários, gostei do conteúdo do post. Achei criativo. E válido.

Beijos,

Pi.

Poder

Do Blog do Cazarim,

"o mais legal de exercer poder é quando ninguém se dá conta e, principalmente, quando o exercício de poder é um luxo, e não uma necessidade. assim como o amor, assim como a vida."

http://cazarimdebeauvoir.blogspot.com/2008/11/ah-sim.html


Seria isso um exercício de poder?

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Miei amici, per me che sono un tifoso della vita e del tempo

Ao som de Ok Ok, Violins.

Violins é, sem dúvida alguma, a banda que mais me traz à mente as primeiras semanas de convivência com meus melhores amigos, o grupo dos meus melhores amigos. À época, eram esses eram apenas uma mescla de recém-conhecidos-que-luminavam-espectativas. Hoje, são minha família.
Há algum tempo, deixei de ouvir Violins, principalmente os primeiros álbuns. Hans me derrete, Vendedor de Rins me dilacera, Glória me destrói, Ok Ok me consome, Camus me crucifica.
Acho que nunca havia comentado isso com eles, mas meu sentimento à época em que os conheci é algo deveras peculiar. Lembro bem de locais-situações: a aranha no parquinho do Martim e a minha mentira sobre a Igreja Universal, a festa de aniversário no Alphaville e o jogo da garrafa numa casa em construção, os recreios no WR e os aniversários nas sacadas, o sol do Vaca Brava brilhando na Cult com a capa d'Os Sonhadores, a MUEDA ao som de Muse. Difícil esquecer.
Engraçado pensar nisso hoje, como não poderia deixar de ser. E o comentário leviano que me levou à idéia de escrever esse post (que acabou se disvirtuando): eles representavam praticamente tudo o que eu queria àquela época. E, a forma como eu os via era extamente algo curioso: alternativos, dos que tem coragem de ir com um chapéu-coco para o colégio, pintar as pontas do cabelo de laranja. Um oasis naquele colégio so children-of-the-sugar-cane.
Cômico como minhas percepções podem ser ridículas e fofas depois de um tempo: a primeira vez que fomos no Matsuri - rodízio, por favor - pedi ao garçom uma coca lata e no segundo seguinte me preocupem acerca do que eles achariam disso, um playboy bebendo coca-cola, auge do imperialismo capitalista. Só me tranquilizei quando a Dora também pediu uma. Rsrsrs.
Agradeço todos os dias da minha vida por ter caído no 2º ano "C".

Sobre Bourdieu

Comentário meu no scrapbook do Beto:

"Então, esse treco aí embaixo é de um artigo do Luis Felipe. Os Meios de Comunicação e a Prática Política. Não se se já comentei com você, mas ele é fissurado na sociologia francesa contemporânea, principalmente em Bourdieu. E, cara, fiquei de cara (rsrs) com o artigo. Para analisar a relação entre mídia e política ele usa o conceito de campo, do tio Pierre. Caralho! É uma ferramenta analítica maravilhosa! Achei do caralho! Provê um framework para análise muito interessante! Adorei"


E, como não poderia faltar, puxando a brasa pro meu lado, rsrs:

" 'Se não há como reformar a TV, que é intrinsecamente nociva, nem, imagina-se, reduzir sua influência sobre o povo, a única solução seria diminuir (ainda mais) a influência popular sobre as decisões políticas, isolando a esfera decisória das influências vindas de baixo. Assim, Sartori se orienta na direção da redução da participação política, o que é coerente com a concepção de democracia que desenvolve em outros livros — uma concepção sensível à crítica platônica referente à incompetência das massas e que, rechaçando os ideais de autonomia cidadã, de igualdade e de alternância entre governantes e governados, enfatiza o papel seletivo do método eleitoral, reduzindo, enfim, a democracia à escolha dos “melhor preparados” para o exercício do poder.' "

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Às novas regras gramaticais

Casal numa mesa romântica. O homem estende a mão com um pequenino presentinho no meio da palma.
- Para de dar presentes para mim, meu bem.
- Para quem?
- Para você.
- Não, não é para você!
- Para!?
- Para você!
Ela levanta da mesa com cara de bosta, pega a bolsa e sai gritando do café. Mas, no caminho, ela quebra seu salto 15.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Neo-realistas Safados

Já decidi o título da minha dissertação de doutorado, que vai virar livro, rsrs.


Destroying Realism: Desmantaling a Lie

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Política na Balada

Remontamos a Foucault, a Giddens e, haha, até mesmo às loucas que queimaram soutiens um dia, para perceber que tudo é político. E, o que eu mais tenho feito nesses últimos dias é praticar a bela arte da análise do discurso. Nesse sentido, e aproveitando meu ânimo, trago aqui uma breve análise de toda a politicidade presente no pop atual.


Comecemos com Beyoncé. 
Como um bom neoliberal, eu a classificaria como perigosíssima. Vejamos os primeiros versos de um de seus primeiros sucessos, Irreplaceble:

To the left, to the left
To the left, to the left
To the left, to the left


Ora, fica explícito aqui a propaganda subliminar na qual a cantora declara seu apoio a formas de governos esquerdistas. E, ao repetir isso inúmeras vezes durante menos de quatro minutos, Beyoncé realiza uma lavagem cerebral vermelha em seus fãs. E, como se não bastasse, ela continua sua balada revolucionária:

To the left, to the left
Everything you own in the box to the left


Nesse trecho, é visível a idéia de desapropriação da propriedade privada, realizado pelo Estado dominado pelas forças do proletário. Tudo que te pertence, numa caixa, para a esquerda. E quem é a esquerda? Fica a dica.

A música atinge seu auge ao enveredar pela filosofia marxista da modernidade. Vejamos:

I will have another you by tomorrow
So don't you ever for a second get to thinking
Your irreplaceable


Explicita-se aqui a transformação do ser humano em mercadoria. Indivíduos se vendendo e se comprando, como bem reza Marx. Beyoncé, dona dos meios de produção, não se deixa enganar pelos homens, pequenas peças de todo um sistema de produção. Se algum não lhe interessa mais, ela o joga fora e o substitui. Fetichismo capitalista!

Como bem sabemos, o mundo da música espelha o dissenso acadêmico a respeito das posições políticas. Nesse sentido, Gwen Stefani adota uma postura normativa muito mais direitista do que sua colega Beyoncé. Basta citar o nome de um de seus maiores sucessos, The Sweet Escape, com seu principal verso, If I could scape, no qual a cantora faz uma referência direta ao tempo em que morou em Cuba.

Podemos partir para a análise dos versos da cantora mais fértil de todo o mundo pop atual. Britney Spears. 
É visível que em toda a sua discografia, Britney tem estabelecido um bom nível de diálogo a respeito de questões muito interessantes. Desde I'm a Slave for You (música na qual, inclusive, a cantora faz um ode ao escravismo neocolonial, se comparando a uma escrava) e Hit me Baby One More Time, observamos tendências submissas, e, inclusive deveras machistas nas letras de Britney, que afirma gostar de se submeter a poder fálico. Vale ressaltar, que a crítica ficou desconcertada com o lançamento de Womanizer, mês passado, no sentido de que considerou tal mudança de postura política um amadurecimento do pensamento de Spears que, de vez, parece ter adotado preceitos feministas.
Peguemos agora o seu penúltimo álbum: Blackout, que é de fato um arcabouço riquíssimo do mais refinado pensamento político de Britney. Comecemos com Hot as Ice, música que combina uma elaborada letra com uma melodia belíssima de altos-e-baixos.

Cold as fire baby, hot as ice
If you've ever been to heaven, this is twice as nice
I'm cold as fire baby, hot as ice
If you've ever been to heaven, this is twice as nice


É perceptível aqui uma referência de Spears ao determinismo geográfico novecentista. A teoria que explciava o desenvolvimento de nações do norte versus as do sul, com base em critérios climáticos, parece ter muito influenciado a cantora. Nos versos acima, Britney, nascida na maior potência do século XX, um país do norte, de clima temperado, compara seu lugar de origem ao de uma outra pessoa, a qual ela convida a conhecer seu país, dizendo ser lá duas vezes mais legal.

Já em Break the Ice, Britney se aventura por outras praças. Aqui é fato uma apologia subliminar ao movimento da Glassnost russa, ao fim da Guerra Fria. Tal movimento encarnou o espírito da abertura cultural, política e econômica da ex-URSS. Spears parece ter muito a dizer a respeito de tal processo.

Ainda em Blackout, Britney retoma uma linha que havia abandonado desde I'm not a Girl Not Yet a Woman, em Piece of Me. Em ambas as músicas percebemos uma forte influência pós-moderna em suas letras. Na primeira, Spears se sente pressionada ao ter que se enquadrar em padrões (garota ou mulher?) impostos pela sociedade moderna. Já em Piece of Me, seguindo a mesma tendência de forma brilhante, Spears faz uma referência à fragmentação do homem que, diante do auge do cientificismo, da modernidade e do racionalismo reinante, parece se perder em meio a tantos rótulos.


terça-feira, 7 de outubro de 2008

Conselho de Conselheiro

Competitividade? Vou usar ao meu favor.
Que se foda: vou passar nessa porra.

Faz exatamente Três Anos

E, agora, mais intensa e verdadeiramente do que nunca, sinto muito medo. Muito medo.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Sobre estagiários

Tiê diz:
LIPE LIPE LIPE LIPE !
Pi diz:
ah
ah
ah
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Tiê diz:
LIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIPE !
ai, haoijgoimbidrboengowrbp
Pi diz:
kkkkkkkkkkkk
no ipea
Tiê diz:
na minha própria sala ! 
*La Usurpadora*
Pi diz:
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Tiê diz:
deixa eu ir embora pq vai cair um toró
senão fico ilhado aqui no ipea

Incrível perceber como o dia mais diplomático da minha vida se transformou um uma noite de litígios e exaltações descontroladas e não-pensadas. Incrível.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Minha frase preferida

Em resposta ao último post, minha frase preferida nos últimos tempos:


"Vamu mobilizá as pessoas, cara! Vamu mobilizá as pessoas!"

Mercado Liberal-democrático

Muito já se tem discutido acerca do domínio capitalista sobre o mercado. especificamente sobre o mercado cultural. Nos últimos dias tenho pensado bastante sobre - tanto por leituras que me põem e discutir, quanto por incentivos de pessoas próximas com posicionamentos muito divergentes dos meus (já disse pra mim mesmo que não serei amigo de marxistas, porra!).


Veio-me a mente uma idéia que julguei a priori interessante. Ver o mercado não apenas como liberal, mas também extremamente democrático - no sentido mais númerico que tal palavra possa adquirir. Agora vejo com muita clareza a assertiva "o mercado dá o que querem"
Lembrei-me da sacada genial que o SBT teve em "produzir" a continuidade para o programa Astros, mesmo sem os direitos da franquia - adquirida pela Record. Em linhas gerais, eles elaboraram um novo programa, que passou a se chamar Astros após uma votação dos telespectadores, que é descaradamente uma cópia do original. Mas não fica só nisso. É perceptível o quanto eles se preocuparam para fazer com que o novo programa sintetisasse apenas o melhor do original. 
Todos sabemos que o melhor dos programas de calouros musicas, em suas inúmeras vesões, são os piores calouros - os que pior cantam, os mais cômicos ou os mais loucos que tenham a coragem de lá aparecer. Ou seja, o novo formato do SBT deu o que se queria ver. 
Sei que isso parece boçal e repetitivo, mas o grande lance é essa faculdade do mercado de não ser apenas liberal -no sentido de livre e acessível - mas também democrático, pois atende os interesses sempre da maioria das pessoas. 
Quanto à legitimidade disso - em termos normativos - já é outra história. Realmente dá preguiça a falta de um bom circuito alternativo de cinema em Goiânia, de programas de qualidade na televisão brasileira e de inúmeras outras coisas que não girem em torno do lucro ou da satisfação da maioria do povo. Mas fazer o quê se fazemos parte da minoria?