sábado, 31 de janeiro de 2009

Solidão

Acho que nunca me senti tão mal por estar só. Eu que sempre apreciei a solidão.

Nada vai estragar. Nada.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Perdições

O que fazer, como fazer, pra onde ir, o que ser, como agir, o que pensar, como manipular o bom senso, manipular o bom senso, em que se apegar, em que pensar, como pensar, por que pensar, como tratar, o que querer, por que querer, quem seguir, por que seguir, o que seguir.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O ser e o não-ser

A senhora virou para o senhor calado e disse:
-Venha cá, se aproxime.
E ele se aproximou com algo nas mãos. Estavam na pia da cozinha, isso, sem romantismo algum. E foi quando, numa brevidade alucinógena do impulso impensado que ela disse:
-Vamos, coloque o seu ser aqui dentro. Aqui dentro do liqüidificador.


Mas a questão que mais importa é (e que poderia até mesmo ser uma moral dessa história): ela ligou ou não ligou o liqüidificador?

domingo, 4 de janeiro de 2009

" 'Situado na zona externa da Via Láctea, o Sol leva cerca de duzentos anos para realizar uma revolução completa na Galáxia.'

Exatamente, este é o tempo que leva, nada menos, disse Qfwfq; eu uma vez passando fiz um sinal num ponto do espaço, de propósito, para poder vir a reencontrá-lo duzentos milhões de anos depois, quando viéssemos a passar por ali na volta seguinte. Um sinal como? É difícil dizer porque quando lhes digo sinal pensarão imediatamente em alguma coisa que se distinga de outra coisa, e ali não havia nada que pudesse distinguir-se de nada; pensarão num sinal marcado com um utensílio qualquer ou mesmo com as mãos; em seguida, que os utensílios e as mãos se vão mas que o sinal permanece, mas naquele tempo nainda não havia utensílios, nem mesmo as mãos, ou dentes, ou narizes, tudo isso que veio em seguida, mas muto tempo depois. Quanto à forma que se dá ao sinal, acharão não ser problema porque, seja qual for a forma que tenha, basta que um sinal sirva de sinal, quer dizer, que seja diverso ou mesmo igual aos outros sinais: também aqui estarão a falar depressa demais, pois naquela época não havia exemplos aos quais referir-me para saber se o fazia igual ou diverso do outro, não havia coisas que se pudessem copiar, nem mesmo uma linha reta ou curva que fosse, não se sabia o que era, nem um ponto, uma saliência ou reentrância. Tinha a intenção de fazer um sinal, isto sim, ou seja, tinha a intenção de considerar sinal uma coisa qualquer que me ocorresse fazer, donde tendo eu, naquele ponto do espaço e não em outro, feito algo com a intenção de fazer um sinal, resultou em verdade que acabei fazendo um sinal."

As Cosmicômicas, Italo Calvino.