terça-feira, 31 de julho de 2007

Não Jogaremos mais Xadrez com a Morte

Eu me lembro da primeira vez em que assisti a um filme do Bergman e do primeiro comentário que fiz, antes do seu fim. Disse “Que filme denso!”, e era mesmo. Morangos Silvestres. Hoje eu não recomendaria esse como o primeiro do diretor para alguém assistir, de forma alguma. Mas me lembro que gostei muito.
Já escrevi muito sobre Ingmar Bergman. Não vi todos os filmes, mas uns sete eu garanto. Quando alguém me pergunta “qual seu diretor favorito?”, a primeira coisa que eu respondo é “pode fazer uma pergunta mais fácil?”, mas o que está lá no fundo da minha tela mental, acenando luminosamente, é o tabuleiro de xadrez na praia de O Sétimo Selo, a cenografia toda em vermelho de Gritos e Sussurros, a toda a pele e a máscara de Persona...
É difícil tirar ele da cabeça, é difícil colocar ele na cabeça. Por mais que o reducionismo que alguns jornais tem feito com ele, limitando-o à angustia e ao silêncio, me deixe puto, eu concordo com isso. Mas falta, Bergman é corrosivo por demais, denso por demais, literário por demais, interior por demais.
É fato que até hoje eu não assisti filme mais rico do que Persona. Rico e belo. É o que tem a melhor cinematografia, na minha opinião. Dá inveja às vezes, a habilidade dele em lidar com idéias tão íntimas. Dá inveja como ele consegue trabalhar tão bem todo o conteúdo que joga esparramadamente na tela branca em branco-e-preto.
Sabe, é muito difícil eu chegar a dizer isso, mas se eu fosse um cineasta e tivesse na bagagem toda uma cinematografia do nível da que Bergman construiu, eu estaria muito próximo (porque realmente estar lá é algo impensável para mim, nesse sentido) da satisfação.
Em comum com ele, eu tenho o medo de envelhecer, presente em Morangos Silvestres, e o incondicional apego à juventude. E agora lá está ele, jogando xadrez com a morte. Que puta idéia, deus!

domingo, 24 de junho de 2007

Críticas


Não, essa idéia não é originalmente minha. Vem de outro lugar que eu não sei qual. Mas achei interessante, dei uma reajustada aos meus parâmetros e deu nisso aí. (Sim, esse post também se inclui na série “eu não acho isso uma grande sacada, mas como há quem ache, eu posto”.
Crítica formal é aquela que se refere à estrutura do argumento, a ordenação e colocação dos argumentos em uma linha de argumentação. Tem, por natureza, dessa forma, um caráter analítico-estrutural, e por isso é muitas vezes embasada na própria Análise do Discurso.
Crítica Substancial não se refere ao argumento, mas sim aos seus fundamentos, levando em conta seu contexto de desenvolvimento, suas raízes, validade, conseqüências, assim como todos os fatores que o compõe. Quando nós criticamos a política corrupta de algum político, essa é uma crítica substancial, não importa a forma como criticamos, nem os argumentos que utilizamos.
Agora, dando uma de professora primária: é importante que se perceba que ambas as críticas são extremamente válidas, sendo que sua força depende apenas do grau de sua análise e densidade de sua estrutura. A substancial não é necessariamente mais atacante do que a formal, e essa pode muito bem derrubar uma forte linha de raciocínio com apenas uma simples análise de sua estrutura.
Mais uma vez como a professora primária: uma boa análise centra-se na utilização desses dois tipos de crítica, pois dessa forma consegue-se abarcar todos os aspectos de uma argumentação. (Meu deus, mais professora impossível! Primária total!)
(Quando eu me refiro às professoras primárias, tenho em mente todo aquele estereótipo de uma mulher-jovem sorridente, paciente, que adora Cecília e Vinícius, formada em pedagogia e escuta Elis, se veste com o equilíbrio de suas opiniões [geralmente de “boa índole”. Defina boa índole!], ama a todos, gosta de animais, e tem como filme preferido [essencial numa psicografia!] Matilda).

Termos de Serviço


O momento mais tenso da minha vida foi quando alguém me disse que nos Termos de Serviço do Blogspot havia uma cláusula que afirmava que o Google (mágico) resguardava para si os direitos autorais de todo o conteúdo publicado no Blogspot. Entrei em pânico (filho). A minha relação com autoria e criação é extremamente obsessiva. Meuás amigos sabem, quando estamos juntos e eu conto alguma tirada engraçada, por exemplo, para um deles (primeiro), e esse vai contar ao outro (segundo) que não havia ouvido, eu EXIJO (autoritariamente) que ele diga ao outro que fui em quem criou aquilo. Oras, onde já se viu?, a outra pessoa adorar o que eu disse sem saber que fui quem disse?! E o pior, a primeira pessoa levar crédito por algo meu!
É obvio que isso tem a ver com minha necessidade de reconhecimento e individualidade.
Pense só, o Google, com os braços cruzados e uma enorme cara de grandioso me possuindo? Possuindo o que eu fiz?
Enfim, me coloquei a pesquisar sobre o assunto, pois ter fé em rumores nunca levou ninguém a lugar algum (disse isso sem pensar, aposto que já levou, aposto!). Eis que encontro:
“Seus direitos de propriedade intelectual. O Google não reivindica nenhum direito de propriedade ou controle sobre qualquer Conteúdo enviado, postado ou exibido por você no Serviço ou por meio dele. Você ou seu licenciador de direitos detém todas as patentes, marcas comerciais e direitos autorais de todo Conteúdo enviado, publicado ou exibido nos serviços do Google ou por meio deles, e é responsável pela devida proteção desses direitos. Ao enviar, publicar ou exibir Conteúdo nos serviços do Google que são disponibilizados para o público você concede ao Google uma licença mundial, isenta de royalties e não exclusiva de reproduzir, publicar e distribuir tal Conteúdo nos serviços do Google com o propósito de exibir e distribuir os serviços do Google. Além disso, o Google reserva o direito de não aceitar, publicar, exibir ou transmitir qualquer Conteúdo de acordo com seus próprios critérios.”


Pronto. Agora encontra-se justificado o fato de eu não postar a semanas.

domingo, 10 de junho de 2007

A Testa Estragada


Fazia seculos que eu não ia á casa da minha avó. Hoje fui.

O melhor é que ela tem um lustre de vidro que fica suspenso no teto, praticamente apenas uns 1,60 m do chão! No meio da sala! Tipo, coisa louca! Logo fui me erguer do sofá para atravessar a sala e meti a cabeça na porra da quina da merda do idiota do lustre!

Minha mãe correu, pegou gelo. Coloquei gelo. Começou a sangrar absurdamente, a escorrer e pingar e me manchar. Dói muito.

Por pouco não precisei de dar pontos... Imagina, eu com uma cicatriz esp na testa? Nem pense.

Por fim, agora minha testa encontra-se com um curativo. E o melhor: eu não posso fazer nenhum movimento com nenhum músculo da testa, ou seja, estou sem expressão. Até o Neco - é o nome do machucado - cicatrizar eu não tenho expressão, logo não tenho sentimentos. Serei frígido, seco e pálido. Minha testa encontra-se estragada.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Os Velhos


(Todas as afirmações que eu faço aqui tomam como parâmetro de análise a sociedade na qual eu vivo. Encare esse “eu” da maneira que preferir. Não estou levando em consideração o panorama social do leste europeu e muito menos o da China setentrional, se te interessa saber)


Quando cheguei em casa na noite de hoje, a vizinha do apartamento da frente estava na minha casa, minha irmã a havia recebido. A velha me contou que a chave da sua casa havia ficado com a filha, que acabara de pegar um ônibus para se dirigir ao setor onde morava. Sem delongas, velha queria dormir aqui em casa. Ela aparentava um estresse desnecessário e uma preocupação descabida, do estilo de levar as mãos à boca e pronunciar, com voz penosa, “ah meu deus...”, como se o fato de sua chave ter ficado na bolsa da irmã fosse semelhante ao esfaqueamento de Marion Crane no chuveiro por Norman Bates. Sabe, essa é a primeira coisa que eu quero ressaltar aqui: não é a primeira vez que vejo velhas alimentando preocupações com bravas doses de exagero – a primeira vez que presenciei isso foi quando estava pegando carona com uma amiga da minha mãe, para ir de Brasília para Goiânia num fim de semana. No carro estava também a mãe dessa amiga, e, quando estávamos saindo do setor Sudoeste, no qual ela morava, começou a chover. O fato é que estava chovendo e ventando, o não-fato é que a velha ficou horrorizada e, como sempre elas fazem, levou a mão à boca e, abaixando as sobrancelhas, como sempre elas fazem, pronunciou “ah, meu deus...” seguido de um “e agora?... que horror...”.
Minhas hipóteses:
1) As velhas da atualidade com suas vidas vazias e repletas de suas rotinas que não preenchem nada precisam encontrar Conflitos (
http://persuasiofalsa.blogspot.com/2007/05/o-conflito.html) para se alimentarem, problemas para saírem da linha comum na qual vivem.
2) As velhas da atualidade perdem seu senso de realidade (o que é fato que ocorre, devido a infinitos motivos, como, por exemplo, as rápidas mudanças da contemporaneidade e a lentidão dos idosos) e por isso deixam de ter o tato que as pessoas geralmente têm, o tato de sentir as situações como elas devem ser sentidas, ou seja, de não saber distinguir um momento de preocupação com a festa de aniversário da bisneta.
A outra coisa que eu queria discutir aqui é acerca de um intradiscurso (conversa que tive comigo mesmo) naquela situação. Quando a velha disse que queria dormir lá em casa, eu me vi relutante. Mentira, eufemismo: eu não queria que ela dormisse lá. Ah, sabe?, eu não queria. E, logo, me veio o clássico argumento na cabeça:
“Devemos respeitar os mais velhos, Felipe Ricardo!”
Então me questionei sobre a origem dessa afirmação. Creio que ela deva ter surgido, muito provavelmente no oriente, ou em algum local em que a idade idosa era sinônimo de basicamente duas coisas:
1) experiência de vida
2) acumulo de um largo arcabouço intelectual, devido ao contato durando muitos anos de vida com fontes de intelectualidade, cultura e afins.
Claro que para a sua época esse argumento é extremamente válido, a priori (a priori!). Porém, será ele hoje em dia? Eu acho que não. Não serei mole em dizer que praticamente não conheço nenhum velho próximo de mim que satisfaça tais requisitos que citei ali, sem duvida alguma. Eu nunca apreciei muito essa idéia que ditava que devemos respeitar os mais velhos, mas isso não significa que eu os desrespeitava. Acho ridículo esse tipo de desigualdade infundada que se cria nas mentalidades, separando os mais velhos dos outros, como se anos a mais de vida fosse sinônimo dos dois pontos que acima citei, o que de fato, na contemporaneidade não é. Hipocrisia ridícula oriunda de um nível de análise pífio da mentalidade das pessoas do nosso tempo.
Se vamos respeitar os mais velhos (o que eu acho que deve ser feito) não vamos respeitar por causa dos dois pontos que eu disse, pois eles não correspondem mais a realidade, são falácias. Que os respeitemos como damos vantagens aos deficientes, por os velhos (e eu não tenho pudores de dizer isso) carecem sim da esperteza que jovens e adultos têm, é fácil observar isso. (Não generalizar o que lê, leitor!). Ou então, que os respeitemos como devemos respeitar todas as pessoas de todas as idades, por educação e para propiciar uma boa convivência social.
Enfim, eu reconheci que não havia mal algum em ela dormir lá em casa, e inclusive reconheci que devemos, por mais moral cristã que seja essa afirmação, ajudar os outros quando necessário e importante, como era o caso. No entanto, não foi necessário: a filha dela interfonou dizendo que estava subindo para entregar-lhe a chave.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Prá lá é Prá cá


Sabe que eu estou sentindo que ele não vai? E que eu to sentindo que esse sentimento é daqueles que eu sei que está equivocado?
Odeio quando sinto essas coisas.
Não, na verdade adoro. Dá pra saber do futuro...

Revolução da Revolução


"Nós não nos deixaremos esvaziar de nossos sentimentos para nos encher artificialmente, como pássaros embalsamados num musel, de palha, de cinzas e de insípidos fragmentos de papel exaltando os direitos do homem."

Edmund Burke, o primeiro crítico da Revolução Francesa.

Ácido, feroz, radical, inovador. Definitivamente intenso.

domingo, 3 de junho de 2007

Doce de Maçã

O Beto me presenteou hoje com muitas maçãs, umas seis. Como eu não queria as comer, fiz um doce. Me lembrei da receita que minha mãe sempre faz com abacaxi, em calda, que fica uma coisa louca, então pensei em fazer uma adaptação. Como não tenho tanta prática e nem habilidade na culinária doce quanto na salgada, entrei no deus, ou seja, google, pra pesquisar algumas ideias.


Digitei "doce de maça", o primeiro site que saiu me fez cair pra tras de tanto rir. Estava bem assim: "Doce de Maçã: Olha, eu garanto, que apesar das 8 horas na panela de pressão, é uma receita rápida." Tá, né, já que você garante!


Acabei fazendo o doce com o que eu já tinha em mente mesmo. Não sei se ficou bom, vou descobrir jájá.

domingo, 20 de maio de 2007

Esse não é um título metalingüístico e nem contraditório!

Rodopiou como uma garça podre, e volta no vestido verde de lama. Eu não quero mais isso, eu não quero mais isso. Eu sou um preguiçoso! Um preguiçoso e eu mereço morrer! Olha lá novamente o drama exacerbado! Você não consegue ficar sem ele, não é? Estou cansada de repetir isso constantemente, essa questão do sui dramatis. E, me largue! Saia! Inovações mais uma vez trilhando o seu caminho velho! A mesma coisa, me fazendo dizer o mesmo sempre! Porra. Estilhaços de sangue na parede.

sábado, 19 de maio de 2007

O Conflito

Por que é que precisamos sempre do Conflito?

Que limitação estranha é essa que nos prende junto à essa necessidade injustificável de encontrarmos um conflito? Eu costumo sempre dizer que acho a vida desinteressante por demais - não, eu acho as vidas interessantíssimas, são as maiores formas artísticas - mas, sabe, eu acho que do jeito que eu gosto de dominar e construir e destruir e compor e estruturar e dar cor e plantar - e tudo isso que deriva do criar em si - as coisas, a vida ficaria mais interessante, bem mais interessante. E é por isso que os conflitos me atraem. É, na verdade, a primeira frase desse texto é para mim mesmo, talvez somente para mim. Mentira, duvido que seja somente para mim. O fato é que a idéia do conflito me atrai, por demais.
Mas, entende?, por que é necessário um conflito para que algum elemento ganhe destaque? Por que é necessária uma provação para que o herói seja mesmo o herói? Essa última frase não expressou muito bem o que eu queria dizer, vou melhorar. Por que não conseguimos ver a beleza com êxtase máximo nos elementos isolados de um conflito, a parte de um enredo? Será que isso é com todos, ou só comigo?

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Estudante da UnB tem Bicicleta Roubada no Campus


Correio Brasiliense, 17 de maio de 2007


No último dia 16 de maio, quarta-feira, o estudante Felipe Ricardo Baptista e Silva, aluno do segundo semestre de Relações Internacionais na Universidade de Brasília, teve sua bicicleta roubada na frente do prédio de sua própria faculdade.
O garoto afirma que havia estacionado o veiculo na grade específica para bicicletas, juntamente com outras bicicletas, por volta das nove horas e trinta minutos da manhã de quarta, na frente da entrada lateral da FA, o prédio onde se centraliza o seu curso. Ao fim do dia, ao retornar ao local para retirar-la, deu conta de que ela não estava mais lá.
Poucos minutos antes do fechamento desta edição, o reitor Timothy Mulholland, comovido com o caso do pequeno Pi, afirmou que a Universidade dará um carro ao aluno e custeará a gasolina durante toda a sua vida acadêmica.

terça-feira, 15 de maio de 2007

A Indecisão e as Frustações do dia de hoje me impediram de decidir esse título


Seria algo mais ou menos assim:

Título: Liberdade é irmã gêmea da verdade!
A liberdade é uma impossível e paradoxal tentativa de conciliação que nunca encontrará um fim.
A verdade é uma impossível e paradoxal tentativa de conciliação que nunca encontrará um fim.

Mas a insatisfação e a amargura do dia de hoje me impeliram a dar um tom mais sério e seco ao texto. Ficaria algo assim:

Título: Liberdade (não, não seria esse o título! Não meeesmo!)
A liberdade é uma impossível e paradoxal tentativa de conciliação que nunca encontrará um fim.

Enfim, dizer o que eu pensei em postar é apenas uma forma de fazer isso aqui ficar um pouco mais interessante do que isso encontra-se nesse momento na minha cabeça, por mais que eu dê um valor astronômico a isso tudo.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Análise - Adeus, Lenin!


Este filme mescla perfeitamente bem informações históricas com uma interessante construção cinematográfica. Pretendo abordar, nesta análise, esses dois lados do filme, que se completam belamente.
A “Berlim dividida” e conflituosa dos anos 80 é o pano de fundo para a história. Vemos uma família composta de três membros, Alex – personagem cujo olhar é a base para como o filme será desenvolvido -, sua irmã e sua mãe. Após um acidente, a mãe de Alex entra em coma por oito meses, e, durante esse período, ela perde uma enorme gama de acontecimentos políticos e sociais que se desenrolam com a transição econômica.
O primeiro aspecto histórico que abordarei se refere à velocidade dos acontecimentos que o filme retrata. Em um espaço de tempo menor que um ano, ocorrem mudanças importantíssimas, tanto no espaço nacional alemão quanto no meio internacional, que se resumem basicamente a queda das tentativas socialistas no mundo. Aponto aí uma característica que está intrincada no mundo atual: a veloz pós-modernidade, em que tudo muda rápido; fatos históricos recentes se tornam passado em um piscar de olhos. Para comprovarmos isso, basta analisarmos a magnitude da queda do socialismo no mundo, um processo extremamente complexo que consegue finalizar-se em menos de um ano.
Outro ponto a ser discutido é a forma com que o “pano de fundo histórico” influencia diretamente na vida das pessoas. A família alemã de Alex, assim como os outros personagens do filme, atravessa os acontecimentos da época sentindo na pele suas conseqüências, dificuldades e nuances. Isso pode ser exemplificado por algumas cenas, como por exemplo, à em que Alex corre desesperadamente em um antigo supermercado nacional procurando por produtos que ele facilmente encontraria a alguns meses atrás, mas que agora estão em falta devido à desnacionalização do país; ou então os inúmeros takes que focalizam a rua da casa de Alex mostrando a grande quantidade de mobílias que os moradores abandonaram por inúmeros motivos. Vemos assim que o impacto dessas mudanças não se resume ao panorama político-social, mas se estende ao cotidiano e à ideologia das pessoas.

Grande parte da beleza do filme se encontra na estrutura que ele usa para contar a história. Podemos, através de uma boa análise cinematográfica, destacar quatro “planos” sendo desenvolvidos no filme, ou seja, três “histórias” que estão sendo contadas ao mesmo tempo. A primeira, já destacada, é o contexto histórico, o background. A segunda trata da dinâmica familiar, sob o olhar de Alex. A terceira traz ao espectador uma antiga história dessa mesma família, que se viu dividida junto com Berlim; refiro-me a história do que ocorreu com o pai de Alex, que preferiu ficar na Berlim ocidental, enquanto a mão levou os filhos, ainda pequenos para a porção oriental. A quarta, que acrescenta um tom especial ao filme, é a própria mentira de Alex, o próprio mundo que ele inventa como se tivesse o poder de escolher os rumos da história. Essa é a parte mais importante do filme, pois aqui há um diálogo com o espectador sobre o próprio papel da história, construindo questionamentos acerca de como a história se constrói e qual é o papel das pessoas perante a ela, além de também apresentar o interessante lado criador e sonhador do personagem Alex, que faz da sua própria vontade sua mentira mais bem desenvolvida.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Análise - Perfume: A História de um Assassino


Não acho fácil falar de Perfume. Tom Tykwer é autor de outro filme que gosto muito, o famoso Corra, Lola, Corra. E não sei muito bem como começar essa análise. Vou atirar algo para o alto.
A primeira coisa que me chamou a atenção, e que mais me chamou atenção, foi a iluminação do filme. Que coisa interessante o que ele faz com ela! Parece-me que ele usa além de posicionamentos muito fortes – digo fortes porque deixam em destaque a sua artificialidade e intensidade – tonalidades diferentes das quais haveria em tais ambientes, como por exemplo, a cor amarela direcionada diretamente para o rosto de uma moça em um beco escuro. Achei muito bonito e esteticamente rico esse trabalho.
É um filme com uma fotografia fantástica, diria até que exageradamente bonita. Além disso, os lances de câmera, os enquadramentos e ângulos, estão muito bem trabalhados.
Quando fiquei sabendo que Perfume seria filmado, imediatamente pensei que seria um trabalho difícil, mas que, se bem feito, poderia render um filme nada menos que maravilhoso. O impasse de filmar essa história seria justamente romper com os limites da linguagem cinematográfica. Oras, Perfume fala de essências olfativas, como transmitir essas sensações ao espectador?
E é exatamente aí que eu acho que o filme peca. Ao assistir, vi todo um cuidado para tentar transmitir o que a personagem principal sentia, os odores e cheiros mais diversos, mas que, no entanto, acho que não foi o suficiente. Basicamente, o que se faz é uma associação de imagens, mostrando o objeto cujo cheiro o personagem principal sente. Funciona mais ou menos assim: o personagem sente algo, e logo, há um bloco de imagens no qual o diretor expõe “o odor”. Acho pouco, muito pouco. Falta uma maior diferenciação entre cada cheiro em si, e com elementos muito específicos (algo que faz muita falta) principalmente nas seqüências em que são apresentadas as vítimas do assassino, onde não se percebe visível diferença entre elas(para mim, todas elas tem apenas cheiro de mulher). Falta uma trilha sonora intensa e muito característica que aluda a cada odor em si, as sensações que ele traz. (Além do mais, a trilha do filme é toda muito pobre). Falta um trabalho especifico com o ritmo de câmeras, tentando acompanhar as nuances que tal cheiro tem, ou reações que ele provoca. Falta, falta, falta. Na verdade, isso tudo são valores prescritivos, ou seja, como eu acho que o filme deveria ser construído.
Percebi que o filme entrava em um “patamar superior” com a cena da caverna. O assassino, saindo de Paris, encontra, em campos ermos, uma caverna e percebe que lá não havia nenhum outro cheiro, a não ser o de “rochas mortas”. E é dito que lá ele poderia descansar, pois sua mente poderia se situar em nada além dele mesmo. E, logo, a próxima cena mostrada, é ele, ainda na caverna, com cabelos e barba longos percebendo que havia perdido o seu cheiro, perdido sua própria essência. Bastante epifânico! Mais tarde, ele se dá conta de que ele nunca teve cheiro algum, e isso causa um abalo na sua pessoa, já que, para ele, o ponto mais importante de uma pessoa é o próprio cheiro, pois é com o qual que as outras se lembrarão dela, ele diz que o cheiro é a alma da pessoa. Acho que aqui ele aprofunda o seu sentimento de ser diferente dos demais.
Acho que Perfume se configura muito político. Digo isso me baseando nos últimos quarenta minutos. A cena da “morte” de Jean-Baptiste é um ótimo representante de toda essa politicidade da obra. Podemos, aí, fazer inúmeras interpretações. Poderíamos dizer algo sobre uma essência – e o que viria a ser essa essência? – que tem o poder de dominar pessoas. Poderíamos dizer algo sobre como as pessoas se rendem com imensa facilidade, tendo seus ideais e vontades subjugados, talvez por uma sensação. Poderíamos dizer algo sobre a importância das aparências frente à todos, e também a inescapabilidade à essas aparências, a sina do ser humano.
Também achei interessante o relativismo que o enredo nos traz. Teço aqui perguntas que facilmente podem ser respondidas: O que motivava o assassino? Era amor? E o que trazia tanto repúdio e asco ao povo à imagem do assassino? Tudo isso é quebrado após a seqüência da condenação, da “morte”, a qual representa o ponto de inflexão do filme: o povo se torna súdito de um assassino, que antes condenou à morte, e o assassino se cansa, por perceber que nada mais valia à pena, já que a única coisa que ele não poderia ter e que nunca teve, foi o amor.
A questão política é fechada de maneira belíssima, com a cena-quase-final, que ocorre no local de nascimento do personagem, em que ele despeja todo o perfume em sua cabeça e é devorado pelos habitantes do local, após ser glorificado e adorado pelos mesmos. Ou seja, como não lhe interessava mais a poção do poder que ele havia criado, ele morre com ela, com a corrupção que ela traz.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

A Chave e a Coisa


Como assim? Que coisa! Que simbologia ridícula! Estava eu me alimentando de um delicioso pacote de Bono recém comprado, o qual possui 21 cm de altura e 4 de diâmetro, sabor Floresta Negra (o chocolate puro e convencional me enjoa), quando sentei-me no sofá e liguei a porra da televisão. Me deparei com toda a magia dum ser vestido de branco, meio gordo, desajeitado, esquisito e velho: o Papa. Opa!, o papa.
Como eu queria estar em São Paulo na sua recepção! A transmissão televisiva estava divertidíssima, e toda a energia e animação católica me consumia! Não agüentei, me levantei do sofá e me pus a dançar animadamente algumas das músicas que o coral de não sei onde cantava.
Voltando: que simbologia ridícula! Deus do céu! O prefeito de São Paulo, como de costume, ofereceu ao papa A Chave da Cidade. ????????. A chave? Como assim? O que ele quis representar com isso? Absurdo! Por que, assim, pelo que eu sei, por exemplo, uma senhora de 63 anos de idade, quando recebe uma pessoa importante em casa, ela oferece uma xícara de chá, outras pessoas, um cafezinho, eu dou um abraço. Mas uma chave? Uma chave enorme, feita de sei lá qual metal, que nem cabe no bolso do bom velhinho! Teria sido muito mais interessante ele ter ganho um guarda-chuva! Ó, não, um guarda-chuva não. Não se sabe o que essas pessoas podem fazer com objetos longos...
Tá, uma chave. Tudo bem. Vamos lá, o que significa essa chave? Significa que o papa agora comanda a porta de São Paulo? Que ele pode entrar quando quiser? Ele vai ficar com a chave pra sempre? Ele pode levar para casa? E mandar, na surdina da noite, fazer algumas copias e vendê-las ao PCC? Sei lá, nunca se sabe. E outra, deve haver muitas copias dessa chave, porque não é a primeira vez que eles entregam ela a visitantes. Tipo, Stálin poderia ter tido uma chave de São Paulo? “Que tal uma chavinha aí, Hitler?”
E agora, para finalizar com classe, glamour e muito estilo, vou fazer alguns joguinhos de palavras com a palavra Papa (Espera! Palavra vem de lavra, que corresponde a trabalho. Mas o papa não trabalha! Quer dizer que papa não é uma palavra? Qual a natureza do papa?). Então, vou fazer joguinhos! Vamos lá, crianças! (veja a jovem professora do pré, muito feliz e animada na sala de aula).
Papa-pomba-pouco-papa-pomba!-popó-papa-o,papa,pipocou-papa,don’t,preach-papa,papel-papa,puto-papa,papinha,de,neném-papa,bicho,papão-papa,pacato-a,pata,do,papa-o,papa,papou,pouco,comamais!
O papa é pop! Meu deus, Que jogo bom foi esse último! Tenho que fazer uma música com isso! Que tal: “O papa é pop / O hippie é pó-óbre!” Muito bom, muito bom! Não, não, não me aplaudam! Aplaudam Deus (dedos cruzados), pois foi ele quem me inspirou. (Logo, Deus é minha musa??? Que coisa!). Mas o que estou dizendo!, Deus não me inspirou! Deus me CRIOU! ... ... ... E qual foi a inspiração dele? Eu? (logo sou Deus?, defina “logo”?). Logo sou a musa de Deus? Meu deus!, eu sou Maria! Ó! E, eu sempre querendo aplicar o complexo de Édipo nas coisas, me, desculpe, me, desculpe, pela, falta, de, tomate!

“Não se esqueça que: nem tudo que eu falo aqui, corresponde à minha opinião; nem tudo que eu digo aqui, corresponde ao que eu penso; nem tudo que é aqui é verdade. Até mesmo essa afirmação. Ou não, talvez eu tenho escrito isso aqui com o puro intuito de me esquivar de críticas alheias ou atritos com leitores.”

A Joca


Ah, como a querida é uma pessoa querida. E foda, demasiado.
Ela disse:

"hoje eu estava fazendo prova e tive um insight.eu gosto de filme plástico,betolucci,almodovar.mas saquei que eu tenho uma meso-visao critica.saquei a sagacidade de Godard em Nostra Musica.imagina colocar guardas do paraiso, como guardas norte-americanos.não gostava pq talvez não intendia com meu tbm meso-prestar atençao.tudo isso deve ser obvio pra vc(não só que me faltava questao critica,mas como a propia visao critica que vc tem para filmes).mas pra mim foi uma puta descoberta meio logica do tipo:"nossa procurei meu oculos a casa inteira e ele estava na minha cara".estou escitada e triste.como melhorar meu senso critico?eis a questao...
***seria essa a reproduçao do texto que esta no orkut do beto ou o original?ambos são meus criticos prediletos ;}
bjoss doces"

terça-feira, 8 de maio de 2007

Teorizações


Ontem estava me perguntando por que motivo me atraio tanto por teorizações. Me atraio por elas, gosto de compreender as coisas, sei lá, ver as coisas que em mim são desorganizadas organizadas, por mais que eu goste da desorganização. A resposta é que eu não sei o motivo. Levantei hipóteses. Consegui estruturar algumas: a prática, a discussão e o discurso.
Quanto à prática, refuto totalmente. Não me sinto interessado por teorias tendo em vista assumir tal posicionamento no mundo ou adquirir tal ideologia. Exemplo disso, gosto de ambos os lados, aprecio autores que são o oposto um do outro, o que seria impossível se meu foco ao ler Teoria fosse a busca por uma posição embasada.
A discussão já me parece bem fundada. Trabalhar com Teoria e se envolver com elas, tem sim em mim um fundo de possibilitar discussões e, inclusive – o que é o mais importante – tem embasamento no nível de argumentos e contrapontos. Por mais que esse, sinto eu, não seja o único motivo nisso tudo.
A hipótese final, que tem se firmado bastante lógica hoje em dia, é que as teorias pelas qual me envolvo servem como o pano para meu entendimento do discurso. Ou seja, para a análise do que é dito. Para a análise do que é dito, da forma como os argumentos se estruturam, se se fazem válidos ou não, quanto às incoerências, e inclusive contrapontos. Acho importante dizer que a análise do discurso não é a ferramenta usada para criticar, sei lá, politicamente as idéias de Maquiavel, mas sim a ferramenta utilizada para perceber as nuances, inclusive retóricas e estruturais do que é afirmado. Logo, a análise do discurso é desprovida de ideologia. Mas isso não é novidade.

sábado, 5 de maio de 2007

A Interpretação


Muito se discorre sobre as técnicas de interpretação. Um amigo meu me contando sobre uma conversa dele acerca desse assunto com uma estudante de teatro me transmitiu a opinião da moça. Ela disse que, dentre as inúmeras técnicas que são propostas aos atores para interpretarem, existe uma – na minha opinião a mais conhecida, mais senso comum, porém a mais difícil – que é a que propõe que o artista encarne o personagem. Ela deu procedimento ao seu discurso, afirmando que ela não gostava muito dessa técnica e que achava que ela era prejudicial ao ator, pelo fato de que este deve se preservar. O nível de encarnação deve ser tamanho que a pessoa do ator se apague, passando de um estado de monopersonalidade para um outro de esquizofrenia, e, logo em seguida, para um estado final – no qual o artista encontra-se pronto para encenar – que é a “plena” dominância do personagem. Também é fácil observar que, um bom modo de avaliar o trabalho de um ator é medindo esse nível de dominância que ele permite ao personagem dentro de si, especificamente nessa técnica. (acho que não preciso dizer que, por melhor que seja o ator, nunca essa dominância da personagem será plena!). Tendo isso em vista, ela afirmou que essa técnica seria prejudicial ao artista, pois ele deve se preservar; por exemplo, em uma cena em que o personagem comete suicídio, o que ocorreria? Estando o ator perdido na personagem, ele cometeria também o suicídio.
Expresso minha indignação. Argumento ABSURDO! É difícil perceber que as coisas não funcionam assim? Por que, na minha opinião, essa técnica é uma das melhores, mesmo sendo a que exija trabalho mais árduo. E outra, cabe ao ator a combinação dessas técnicas, cabe a ele ter a sutileza de perceber quando é adequado usar essa ou aquela técnica, sabendo contrabalancear e equilibrar o plano de atuação. Além de que, como já disse, nunca (nuca diga nunca!) o personagem conseguirá adormecer toda a personalidade da pessoa, o que impede que ela faça algo desse tipo, que agrida fortemente ela mesma.
Enfim, quero estudar mais sobre o assunto.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Dia Dois


Eu sou um espelho e todas as coisas que faço são voltadas para um espelho. Penso nos meus reflexos, mas durmo com fantasmas, e a minha lente continua quebrada. Tudo o que eu escrevo – e o tudo se refere também a isso – é um reflexo pensado. Criar coisas envoltas, dar vida, ver a realidade perder na ficção e a ficção ursupar a realidade com unhas pretas. E, acima de tudo, adorar que vejam isso.


O que eu quero para a minha literatura é fazer algo escancarado, uma criação que saiba que é uma criação, com doses cavalares de consciência, e que com isso sinta sua sorte passando por seus sentimentos.


Hoje morre minha criação artística impessoal. Quero algo imbricado, em que o verdadeiro tenha como caixa-preta o falso, e esse, um labirinto sem curvas daquele.


Mais uma vez (olha as repetições, felipe ricardo!) não quero poder distinguir o que há de pessoal no que eu escrevo do que é inventivo.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Pragmatismo de la Mancha


Aprendi a ser pragmático. Ou melhor, considerando que esse não é o tipo de coisa a se aprender, eu digo: o pragmatismo entrou em mim. Definitivamente. E, eu digo isso de uma forma muito consciente e embasada.
O que me agora me incomoda na falta de um senso pragmático é o descompasso. Agora, porque antes não conseguia perceber, era um incapaz. Que descompasso é esse? É basicamente aquele se nasce do atrito entre valores descritivos e valores prescritivos, decorrente de suas aplicações. É algo simples, é como se tivéssemos uma geléia de moldar, com a qual desejasse fazer uma escultura, ou sei lá, algo do tipo; e, ao invés de trabalhar manualmente com a peça, o artista – sim, porque o social também é arte – reclama e em um monólogo muito consciente diz que gostaria que a massa fosse de uma outra textura. Até então tudo bem. A problematização nasce quando o trabalho que ele viria a realizar fica impedido de tomar forma devido ao fato de que a peça não é de um modelo o qual ele idealiza.
Decorrente disso, tiro uma outra coisa: essa questão da idealização me pareceu curiosa agora. Como é interessante como esse artista deposita em uma idéia interior sua um valor que faz ele crer que seja essa a sua verdade, ou melhor, que seja esse o melhor caminho, ou algo do tipo...
Só digo que tenho medo. Medo, por tudo que ouvimos está contaminado, talvez até mesmo essa informação. Ai, que nojo desse tom esquerdista revoltado e vago! Preciso fazer uma correção: Por favor, não me refiro à contaminação oriunda da mídia manipulada blábláblá não, isso não se encontra no cômodo das coisas que eu viria a dizer, pelo simples fato de que isso está batido de mais, já ficou em voga de mais, - pensando agora eu acho que deveria haver uma lei que normatizasse essas coisas, que, por exemplo, evitasse que um tema ficasse tempo de mais no agenda meeting até se tornar clichê-, eu me refiro à contaminação das lentes. As lentes de cada um. Antes de conhecer esse termo, eu falava em sublimação de opiniões, que em pouco tem a ver com o conceito freudiano de sublimação, mas agora que o descobri, me sinto mais feliz.