and the start of the dream
No Cars Go, The Arcade Fire
Sempre me recorre à mente a idéia a respeito da beleza que o tempo, por si só, consegue imprimir aos fatos. Olhar para trás e ver tudo o que agora é passado, e perceber a história nisso tudo. Vejo uma certa grandiosidade, como num desfecho de um livro muito longo, com os quais sentimos envelhecer ao lado dos personagens.
Pessoas também se tornam personagens, acontecimentos também se tornam narrativas: mas a história da vida de alguém só se torna história - aos olhos de qualquer um, e, principalmente dela própria -, quando o tempo se faz sentir. E é exatamente no momento em que só conseguimos conseguir viver olhando para o que vem a frente e repensando o que passou, que sentimos isso. É a sensação, cada vez mais intensa, de percurso. Um percurso no tempo.
Tenho pensado muito a respeito de marcas nas vidas das pessoas. Marcas como acontecimentos que, em dado momento, conseguem agregar em uma só condição nova, tudo o que já foi vivido, e, ao mesmo tempo, condicionar todo o porvir. Não são simplesmente ritos de passagem, pois esses são apenas marcas do próprio percurso. As marcas às quais me refiro são marcas da própria história, se é que é possível tal dissociação. Grandes acontecimentos definitivos e que, muitas vezes, são expressões fortes nos planos de vida que cada um - e de forma alguma todos - constrói.
Sinto o tempo, ao dar conta de produzir a história unindo pessoa, percurso, planos e marcas como construindo, também, o próprio mundo, de uma maneira incrivelmente delicada. O mundo é feito de idéias - fatos, indivíduos, estruturas, ocasiões e forças; mas só o tempo consegue imprimir a isso tudo o tom. O tempo é o mais belo compositor do mundo.
No Cars Go não é por acaso. É impossível não ouvir a música sem deixar vir isso que há escrito aqui à mente. Talves as notas, semi-elevadas, um tom de abertura, grandiosidade, como ao fim de um longo livro...