terça-feira, 7 de agosto de 2007

Análise - 8 Femmes

Assim que terminei de assistir esse filme de François Ozon, a primeira coisa que me veio à mente, ao pensar em escrever uma análise, foi que eu encontrei muitas idéias interessantes esparramadas pela trama. E que trama, para começar dizendo! Com trejeitos marcantes de Agatha Christie, a rainha do noir - por mais que 8 Femmes não compreenda totalmente a estética noir, todo o clima misterioso e duvidoso do enredo nos coloca em meio a um quebra-cabeça de segredos que devem ser revelados com o decorrer da história.
Acima de tudo, 8 Femmes é um filme francês. Tanto pelo cuidado com a cenografia e com o figurino – lindos e coloridíssimos – quanto pelos temas peculiares e pouco comuns que a história aborda, como é o caso do relacionamento de Marcel com as filhas. Também devemos nos lembrar das músicas típicas francesas que dão ritmo à película, por mais que elas nem sempre estejam de acordo com o enredo ou com a situação que se desenvolve na história. Aliás, uma análise que não esteja tão preocupada com a verossimilhança do filme, poderia mencionar que as partes musicais servem simplesmente para chamar a atenção do publico para longe do quarto onde o morto, que não está morto, se encontra; distraindo o espectador e escondendo a verdade, como se todas elas soubessem que Marcel ainda estava vivo. Boa interpretação, mas peca pela falta de verossimilhança.
O que mais me encanta no filme é a visível estática teatral que o permeia do começo ao fim e que se mistura com o melhor glam francês, visível em Pierrette e em Augustine após a transformação. Observamos que a maior parte da história transcorre em uma sala de estar, com seus vários ambientes que dão espaço ao entra e sai das atrizes. Fantástica o último take da exibição que mostra as oito de mãos dadas de frente para a câmera, como que para fazer reverência e agradecer pela presença da platéia.
Vale muito à pena comentar alguns elementos componentes do enredo. O primeiro deles é a reação que as personagens têm ao saberem da morte do Patriarca Marcel, visto que, à exceção da caçula nos primeiros momentos depois da descoberta do assassinato, nenhuma outra personagem se mostra chocada ou aterrorizada com o ocorrido.
Em segundo plano, porém com uma importância catastrófica no filme, temos algo que pra mim é o que há de mais rico em toda a história: o fato de todos aqueles conflitos, problemas, discussões, casos e intrigas, aparecerem exatamente na situação da morte de Marcel, e justamente em função desta. É como uma bomba que cai em uma cidade e causa seus efeitos. Esse detalhe se faz muito importante para a compreensão da história, pois era exatamente isso o que a caçula queria trazer à tona, mostrar que nenhuma daquelas oito mulheres amava Marcel.
O desfecho é algo impressionante. Após a descoberta de que o pai não está morto (um anticlímax muito bom), mas apenas trancado no quarto onde o suposto assassinato ocorrera, o suicídio do mesmo ocorre com o intuito de por um ponto final em tudo aquilo que se desenvolveu durante todo o filme, como um último suspiro, querendo abandonar todos aqueles problemas que habitam aquele ambiente de família.

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