Pensemos em dois tipos de artistas. The ones who pensam em uma história - porque toda arte é uma história ([anti]ode à Cazarim, com seus postulados imperativos de arte) -, prouduzem sua obra, e, por ela, conseguem transmitir exatamente o que pretendiam, causando a igualdade entre quem está do lado de cá e do lado de lá das páginas. E, também, the ones who pensam em uma história e também produzem sua obra, mas que não conseguem transpor à ela aquilo que havia criado. Nesse caso, a obra não está morta, muito pelo contrário. Nesse caso, duas obras são criadas: aquela que é trasmitida e que afeta o público - escancarada -, e a outra, que não conseguiu se desprender da criação do artista, continuando colada, permanece intacta, única, secreta, como uma gota de água com sais que, isolada a mil metros de profundidade na terra em alguma caverna onde a luz nunca chegará, cai de uma estalagmite à estalagtite logo abaixo.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
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24 comentários:
antídoto:
mas não há transmissão em arte. vc se esqueceu deste postulado imperativo! o que torna a primeira sentença um antiode.
e isso me faz pensar nalgo que já conversamos. algo recente. do tipo: nietzsche é grande antes de ser reconhecido como tal?
e da parte da obra que não se transmite: se ela existe só dentro do porão do autor, ela é fato ou só potência?
acho que a obra intacta é fato. mas fato dotado de uma pureza tão extrema, por existir apenas ao autor, que, aos outros, parece potência.
não falo dela como fato, potência, processo, pura. a obra nem existe, eu acho. não como transmissora. existem os objetos, existem as coisas. mas antes das coisas existe a passagem. olha lá na minha fábula, a segunda, beto, acho que talvez vc entenda o que eu quero dizer com gesto, passagem, arte.
e acredito muito na última frase da fábula. acredito no olho, nas mãos, no manusear, no tocar. não como sensualidade bruta, mas como ato significativo, expressivo, gerador de marcas. cadê a lyana nas discussões pra me ajudar com os lingüistas?
faltou um 'n' no nome da lyanNa.
minto, esqueci o primeiro, não o segundo. lyaNna.
ninguém vê, - isso não é toc ou descontrole, juro - mas eu estou mudando meu jeito de escrever. estou escancarando o processo e ele continua velado. isso é genial de minha parte, devo reconhecer humildemente.
(aquele que mudou o texto do post e finge que nada ocorreu)
cazarim, hãn? que que tem a ver o lance do antiode?
rsrsrs. estou me sentindo tão travesso hoje.
ao caza: "mas não há transmissão em arte" - e quanto as obras que causam imensa identificação por tratar, por exemplo, de experiencias caras ao público e ao artista? (nesse caso, considerando que a identificação estabelece uma transmissão, né...) como fica?
ao beto: na minha opinião, a questão de ser ou não grande é uma coisa bem mais "banal" (se é que cabe tratar a banalidade nesse caso) do que o que eu tentei falar no texto. na verdade, eu abordo exatamente a face oposta. com a identificação de um artista que contém em si uma obra inalcançável, despresa-se o valor de um reconhecimento do público, que passa a ser algo fútil, passando-se a ter a noção de que existem obras dentro de artistas, de todos nós, que nunca teram reconhecimento.
a dora: na mosca.
relendo, descobri que gostei da idéia de que a obra não existe. gostei, no sentido de "achei interessante e bonito mas não sei ainda se concordo", assim como imagino que seja a sua posição quanto a isso.
o fato de a obra não ser um fato, não existir... hum, poderíamos dizer que a obra é uma representação? um expressão representativa? que representa uma frase, uma idéia, um pensamento, uma passagem? uma expressão representativa que tenta estabelecer uma comunicação que exprima uma idéia (que seja)? hum...
há um livro interessante que talvez seja bom vc ler: 'notação, representação, composição: um novo paradigma da escritura musical' do compositor edson zampronha (http://www.zampronha.com/PaginaBR_Publications.htm#Ancora-PUB2)
digo, para me entender. a mim e a meus 'imperativos categóricos'.
mas o mais interessante é vc me falar em meus imperativos categóricos: vc é que tem mania de controlar as coisas; oras bolas. :P
fiz um paralelo, pi... não estava falando da discussão do reconhecimento da grandeza. tava falando que, ao meu ver, a obra que é guardada dentro do artista não existe. ela só existe quando estabelece comunicação.
não concordo. não saco nada, formalmente falando, de filosofia da comunicação, mas não acho que as coisas só adiquirem o titulo de "existentes" quando estabelecem comunicação. de forma alguma.
se concordarmos com isso, vamos estar considerando inexistentes todos os sentimentos de pessoas que não os compartilham, por exemplo.
Enfim, sobre e odes e transmissões, nem me preocupei em ler a discussão nos comentários, e, quem sabe, talvez elas me dessem alguma luz necessária que decididamente faltou ao texto. Pi, sem passar a mão na sua cabecinha dessa vez, metade do texto é óbvia e a outra metade é um monumento à falta de cognição (e eu me certifiquei disso lendo umas cinco vezes). Quero ler com você ao lado, rsrs.
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
"aquele que muda o post e finge que nada aconteceu"
USAIhSAIUHSAUIhSAIuHISUAH
SHAuaSHiuASHuiASHiusAHuiSAHiAUSH
ASHuiSHISAUHUAISHSAIUhasIUhSA
Treeeeeeeela!
Gente, essa discussão tá o máááximo! Até fui citada. Pronto, pronto. O Cazarim é um dos mais sensatos aqui, mas devo encher a bola do Pi e falar que todo mundo resolveu imitá-lo erguendo monumentos à falta de cognição, rsrs.
(Brincando, os comentários estão bacanas após uma abstração loooonga e à qual não estou acostumada, rsrs, o monumento só se aplica mesmo ao post.)
Rindo horrores aqui de vocês.
"poderíamos dizer que a obra é uma representação? um expressão representativa? que representa uma frase, uma idéia, um pensamento, uma passagem? uma expressão representativa que tenta estabelecer uma comunicação que exprima uma idéia (que seja)?"
Gente, resume isso tudo em "mímese". Economiza teclado horrores. E acho que vc deveria estudar mais o termo, é super pertinente para o seu post, em crítica da arte. Procure isso na obra da Jeanne Marie Gagnebin. Foderosa ela.
Olha só, eu concordo com o Beto que a obra só é obra depois que saiu da cabecinha do artista. A sua refutação foi... assim... ham? Não foi refutação. De "obras" você entendeu "tudo". Não, uma obra só é obra a partir do momento em que estabelece comunicação. Não é o mesmo com sentimentos, entende? A comparação não procede.
Gente, adorei ficar brincando nesse post. Mesmo.
apesar de achar que encaramos o seguinte de modos diversos, dou razão ao pi: não vejo a comunicação como o que faz a obra ser obra. a não ser que comunicação não seja correlata de transmissão: aí eu teria que dar razão ao beto. mas definitivamente não concebo a obra como imitação.
e ninguém viu o que eu fiz. me sinto mais travesso do que o pi. muito mais. perverso. uma mistura de voltaire, scarlatti, wilde, nietzsche, gil vicente e gregório de mattos.
meu problema com transmissão é o seguinte (mais um imperativo, e não axioma ou dogma, categórico): a obra não se dá a quem escreve e a quem a experimenta a partir de conceitos, porque os conceitos só se firmam a partir da expressão. não que todo conceito seja uma obra, mas, de qualquer modo, toda obra só se configura a partir de uma expressão. mas, nesse caso, me contradiria. o que, afinal, é a diferença entre a expressão do conceito e da obra? como é que o conceito passa de conceito a obra? é um conceito que guia a ação ou a própria ação segrega de dentro de si a possibilidade de ser "guiada" por um conceito? bem, sobre a transmissão: só a vejo possível caso a arte seja um conceito que passa a outrem. a experiência estética é uma experiência que se dá a partir do conceito (reflexão) ou da experiência sensível? em outras palavras: é um fenômeno de superfície (num sentido nada pejorativo) ou uma experiência de sentidos ocultos/metafísica (num sentido bem pejorativo)? talvez a obra seja comunicação, de fato, mas apenas porque é o ponto onde obreiro e fruidor se tocam; a transmissão seria uma exceção, e não a regra. possível?, não sei nem se plausível. a obra como ponto de encontro, mas, devido à polissemia intrínseca, também de desencontro. é uma continuidade descontínua, uma superfície que se amplia em profundidade e espessura a partir de si em direção a tudo ou a nada. se falamos em OBRAS num sentido bem literal, não se pode, por isso, esquecer o processo de feitura. o conceito é o próprio processo de feitura ou é o material sobre o qual se trabalha?
ou, para me exprimir em parábola: http://pantheondechos.blogspot.com/2008/02/duelos-1.html
mais uma vez, travesso:
(aquele que vai escrever algo contraditório esperando que ninguém perceba)
Então, tipo,
"é a diferença entre a expressão do conceito e da obra? como é que o conceito passa de conceito a obra?"
eu sinceramente acho que o obra é um trabalho feito com a linguagem sob a ótica de um conceito.
(por mais que essa definição possa esbarrar quando levar em conta Conceitos de arte muito tecnicos)...
eu não vejo a obra como regida a partir da ótica de um conceito, mas sim a partir da ótica de um pensamento, o que é MUITO diferente. isso tem a ver com as distâncias e proximidades...
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