quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Ano e Tempo

Quisera eu ter escrito uma breve retrospectiva, ou uma síntese breve, do que foi o meu ano passsado, cuja conclusão constaria o meu atual sentimento para o ano novo. Como incrivelmente muitas coisas, não o fiz.
Muitos tem dito que o ano passado foi um ano morto, expressão minha, que seja, um ano desperdiçado, expressão deles, que seja.
Eu não concordo com essa assertiva, para não ser cliché e, mesmo assim - inevitável, como se fosse - aderir a nova moda de parafrasear/citar outros blogs.
Sim, eu poderia ter visto mais filmes e ido mais ao cinema - algo que realmente deixar de fazer me põe em um atraso espessamente agoniante e cadavérico -, poderia ter lido mais livros, poderia ter revisto pessoas, poderia ter me jogado em direção às pessoas as quais eu senti falta. Mas não, tudo isso não me faz pensar que foi um disperdício.
De qualquer forma, costumo ver o tempo passando com relevante beleza para poder julgar de forma depreciativa qualquer passagem que nele tome espaço. É como se todos os atos, todas as falhas, todas as histórias e narrativas, todas as vidas, todas as pessoas, todas as cenas (e que cenas!) que mancharam e deram cor ao ano passado, construíssem uma obra plástica por si só, agora finalizada - intacta em uma arredoma de vidro, em um cubo de vidro exposta em algum museu. Não sairá mais de lá, nunca mais.
Eu me preocupo demais com os clichés e com a escrita piegas para dizer que o ano que passou vai influenciar nos próximos anos maravilhosos e vindouros da minha vida. Nem pensar. Isso é óbvio.
No entanto, da mesma forma que agora eu me dedico muito mais aos livros que não li, aos filmes que não assisti e às pessoas que não vi, para tentar dar outros contornos no quadro desse novo ano, eu me ponho em xeque frente às pessoas que me colocaram em um tabuleiro de xadrez no ano passado, me torturo com as dúvidas que ascendem de novas convivências, de novos interesses interpretados com antigas paixões, me derreto com um novo que não é uma perfeita progressão do que o ano que morreu deixou para o futuro. Dialética extrema.
Por mais que o tempo - que costumo dizer que é a coisa que mais me faz ver com beleza outras coisas - siga sempre em linha reta, o rastro que ele deixa, para frente e para traz, não tem nada da perfeição reta e seca. Não mesmo. Muitos vetores, muitas curvas, muitas quedas, muitas linhas.
Diferentemente de muitos outros que li, tenho medo do próximo ano.

5 comentários:

Tatiane disse...

Bravo!
Post muito bom, e muito bem escrito.
Ele me fez pensar em quando te conheci. Que puta evolução de escrita!
Bravissimo! (aprendi a tal palavra italiana em concertos. Quando a apresentação é maravilhosa.)

beta(m)xreis disse...

legal bastante, tanto o desenvolvimento da idéia, como o fim que se marca pela diferença.
seja otimista, amiguinho. rs
concordo totalmente com vc que nenhum ano é disperdício.

cazarim de beauvoir disse...

anotações inadiáveis durante a leitura:

1.síndrome de titãs? (devia ter me ocupado menos com problemas pequenos etc);

2.as anotações são aleatórias;

3.tá, pode ficar com medo de mim e apagá-las depois, eu entenderei;

4.ainda não passei da primeira frase, mas não creio em retrospectiva; vejamos se você me convence do contrário;

5.não, não li o texto anida; o cmoentário não é mera frescura; realmente estou tecendo impressões prévias;

6.'desperdício' e 'trás', babe;

7.desculpe pela correção, é toc (esse é de verdade);

8.acho lindo e não consigo comentar. gotcha!: 'No entanto, da mesma forma que agora eu me dedico muito mais aos livros que não li, aos filmes que não assisti e às pessoas que não vi, para tentar dar outros contornos no quadro desse novo ano, eu me ponho em xeque frente às pessoas que me colocaram em um tabuleiro de xadrez no ano passado, me torturo com as dúvidas que ascendem de novas convivências, de novos interesses interpretados com antigas paixões, me derreto com um novo que não é uma perfeita progressão do que o ano que morreu deixou para o futuro. Dialética extrema.
Por mais que o tempo - que costumo dizer que é a coisa que mais me faz ver com beleza outras coisas - siga sempre em linha reta, o rastro que ele deixa, para frente e para traz, não tem nada da perfeição reta e seca. Não mesmo. Muitos vetores, muitas curvas, muitas quedas, muitas linhas.
Diferentemente de muitos outros que li, tenho medo do próximo ano.'

beta(m)xreis disse...

me fascinou foi esse
"É como se todos os atos, todas as falhas, todas as histórias e narrativas, todas as vidas, todas as pessoas, todas as cenas (e que cenas!) que mancharam e deram cor ao ano passado, construíssem uma obra plástica por si só, agora finalizada - intacta em uma arredoma de vidro, em um cubo de vidro exposta em algum museu. Não sairá mais de lá, nunca mais."

Lyanna Carvalho disse...

"Por mais que o tempo siga sempre em linha reta"

Pi... você ficou louco???

(Rsrs.)