sexta-feira, 27 de abril de 2007

Dia Dois


Eu sou um espelho e todas as coisas que faço são voltadas para um espelho. Penso nos meus reflexos, mas durmo com fantasmas, e a minha lente continua quebrada. Tudo o que eu escrevo – e o tudo se refere também a isso – é um reflexo pensado. Criar coisas envoltas, dar vida, ver a realidade perder na ficção e a ficção ursupar a realidade com unhas pretas. E, acima de tudo, adorar que vejam isso.


O que eu quero para a minha literatura é fazer algo escancarado, uma criação que saiba que é uma criação, com doses cavalares de consciência, e que com isso sinta sua sorte passando por seus sentimentos.


Hoje morre minha criação artística impessoal. Quero algo imbricado, em que o verdadeiro tenha como caixa-preta o falso, e esse, um labirinto sem curvas daquele.


Mais uma vez (olha as repetições, felipe ricardo!) não quero poder distinguir o que há de pessoal no que eu escrevo do que é inventivo.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Pragmatismo de la Mancha


Aprendi a ser pragmático. Ou melhor, considerando que esse não é o tipo de coisa a se aprender, eu digo: o pragmatismo entrou em mim. Definitivamente. E, eu digo isso de uma forma muito consciente e embasada.
O que me agora me incomoda na falta de um senso pragmático é o descompasso. Agora, porque antes não conseguia perceber, era um incapaz. Que descompasso é esse? É basicamente aquele se nasce do atrito entre valores descritivos e valores prescritivos, decorrente de suas aplicações. É algo simples, é como se tivéssemos uma geléia de moldar, com a qual desejasse fazer uma escultura, ou sei lá, algo do tipo; e, ao invés de trabalhar manualmente com a peça, o artista – sim, porque o social também é arte – reclama e em um monólogo muito consciente diz que gostaria que a massa fosse de uma outra textura. Até então tudo bem. A problematização nasce quando o trabalho que ele viria a realizar fica impedido de tomar forma devido ao fato de que a peça não é de um modelo o qual ele idealiza.
Decorrente disso, tiro uma outra coisa: essa questão da idealização me pareceu curiosa agora. Como é interessante como esse artista deposita em uma idéia interior sua um valor que faz ele crer que seja essa a sua verdade, ou melhor, que seja esse o melhor caminho, ou algo do tipo...
Só digo que tenho medo. Medo, por tudo que ouvimos está contaminado, talvez até mesmo essa informação. Ai, que nojo desse tom esquerdista revoltado e vago! Preciso fazer uma correção: Por favor, não me refiro à contaminação oriunda da mídia manipulada blábláblá não, isso não se encontra no cômodo das coisas que eu viria a dizer, pelo simples fato de que isso está batido de mais, já ficou em voga de mais, - pensando agora eu acho que deveria haver uma lei que normatizasse essas coisas, que, por exemplo, evitasse que um tema ficasse tempo de mais no agenda meeting até se tornar clichê-, eu me refiro à contaminação das lentes. As lentes de cada um. Antes de conhecer esse termo, eu falava em sublimação de opiniões, que em pouco tem a ver com o conceito freudiano de sublimação, mas agora que o descobri, me sinto mais feliz.