domingo, 11 de fevereiro de 2007

Voz

Quanto tempo. Quanto tempo eu tive até agora. Eu não sei, eu não sei mais. Parece-me que tudo o que eu já sou se foi, e nada mais me aguarda no Hall dos Sentimentos Perdidos. O quarto está cheio de gente, vazio de gente. Ah, e como eu sinto falta daqueles tempos; que tempos! É estranho eu não achar estranho esse doer, essa falta. E essa é definitivamente uma palavra estranha, uma palavra estrangeira, pois as pessoas só passam a conhecê-la realmente quando a sentem, por que as verdadeiras palavras são assim, ocultas por debaixo de um pano negro, dificultando sua própria revelação. Que corredor é esse? Essa não pode ser a minha casa. Não, definitivamente não é. Mas eu estou gostando do meu medo.
Quantas palavras eu ainda tenho a descobrir? Eu me melancolizo com isso, a ver que as coisas são definitivamente extensas e enormes. Mas ao mesmo tempo sinto que é isso mesmo, é, que é isso mesmo o que deve ser para ser. Com apenas essa finalidade? Sim, ser. Sir, sem. Que simbiótico. Eu me simbiozo como um gozo e me simbiolizo nesse jogral ao aceitar esse sim e ao ser esse sim.

Vou escrever um dicionário!

Não, não vou mais.

Refuto essa idéia porque os mágicos vieram até mim. Vieram até mim e pediram para que eu parasse com tudo isso, para que eu deixasse isso tudo de lado e fosse embora. Eu não fui. E nem vou. Os mágicos são mágicos. Eu sou uma pessoa. Desestrutura. Que desestrutura mais desértica! O que é isso? Não estou mais só, tenho agora uma pessoa ao meu lado. Não, ao meu lado não; na minha frente. Não há ninguém do meu lado. Nunca houve.

Voz.

São só seus olhos, só seus olhos gordos. E verdes. Largue-me! Estou cansada e nojenta! Ampute meus membros inferiores e me deixe correr livremente por aí, por favor! Você é a única pessoa que poderia fazer isso a mim! Eu lhe peco! Eu lhe peco! Que será então se eu continuar assim?
Quero derreter e me refazer em papel-maché. Para ser um ser frágil e delicado, cor-de-rosa. Não, não disse rosa-choque, não quero; quero rosa claro, clarinho, e leve. Porque é assim que eu gosto das coisas, leves. Drama, drama. Não pense que deixarei você no chão, absurdo! Absurdante. Levante-se. Levante-se! Pare com isso e ande! Ande!
Onde estão os livros? Volte para o corredor amarelado! De que serve perguntar onde estão os livros? Você se recusa escrever um dicionário. Volte para o corredor amarelado! Drama, drama. Derreta, então.
Eu não lhe culpo. Não mesmo. Está cada vez menor. Cada vez
Menor.
Como? Cada vez menor, cada vez menor.
Volte! Porque as frases estão cada vez menores?
Derreta!
Você está derretendo
Meu
Bem.
Quero derreter e me refazer em papel-maché.

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