quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Conspiração


Eram três amigos sentados em uma mesa de madeira em uma quente noite de verão. Estavam em um galpão-salão escuro e vazio. De iluminação só havia uma luminária que pendia sobre a mesa e que coloria o ambiente de vermelho. Os três rapazes trajavam roupas bastante comuns logo não preciso descreve-los. Ademais, eles jogavam poker.
A mesa quadrada estava coberta por um forro de feltro verde, e, sobre esse, estavam dispostas as cartas, acompanhadas de copos e de uma garrafa de conhaque, e também de um cinzeiro recheado de pitucas de charutos. Imagino que já tenha desenhado em sua mente que o ambiente estava envolto pela fumaça proveniente do fumo. Os jovens estavam bastante desenvoltos e animados.
- Caralho! Você não pode ter vencido de novo, número 1! – exaltou-se o da boina.
- Isso é impossível! – berrou o da barba rala.
- Sou bom por natureza. – justificou o número 1, espreguiçando-se na cadeira.
O da boina olhava fixamente para uma região do galpão fora do raio da luz vermelha. Ele havia percebido a aproximação de uma garota, provavelmente de uns 9 anos, vestida com um sensual vestido vermelho, com um andar rebolante e uma expressão tentadora.
- Quem é ela? – perguntou o da boina. Os outros dois ao verem a menina, se assustaram, e repetiram a mesma pergunta.
A garota chagou até a mesa em que os rapazes encontravam-se sentados. Eles se entreolharam, incompreendidos. A garota fitou cada um deles diretamente. A fumaça dos charutos sentiu-se cansada de pairar no ar. A menina, agilmente, tirou um pequenino cachorro muito pouco peludo de dentro do decote dos seios, levou-o à boca e o engoliu – após mastigar, é claro. Então, ela caiu em cima da mesa definitivamente morta.
Os rapazes estavam completamente estáticos. Tinham os olhos arregalados e o pavor cutucava os seus ombros irritantemente.
De súbito, todos os 3 começaram a rir descarada e hipnoticamente. As gargalhadas rolaram soltas como que descendo de uma colina verde; o riso preencheu o lugar. A menina despertou da morte e levantou-se da mesa; o cachorrinho saiu de dentro de sua boca e começou a brincar com as cartas do baralho. A garota também ria altamente. Até mesmo o animalzinho parecia estar rindo.
- Que idiotice! Onde já se viu! Que cena mais sem lógica! – disse o numero 1, ainda rindo.
- Só em um conto babaca mesmo que isso poderia acontecer! – completou a menina.
- Até parece que uma garotinha de 9 anos vestiria um vestido desse, andaria rebolando e ainda engoliria um cachorro vivo! – debochou o da barba rala.
- É mesmo, minha personagem é a mais mau construída de todas! Ridícula! – corresponde ela.
- Isso só pode ser idéia de um escritor bobo que não sabe e nem tem sobre o que escrever! – disse o da boina.
- Realmente, esse escritor é um tonto! – todos os outros concordaram.
- Hei! Narrador! O que você acha desse autorzinho? – perguntou a menina.
Eu acho que lê é um babaca completo! Impactantemente abastado! Fico até constrangido de ter que narrar os fatos absurdos que ele põe na minha boca!
Todos riram, inclusive eu.
Contudo, de repente, o da boina engasgou-se com o riso, perdeu o fôlego e morreu brevemente. Os outros se assustaram. E, quando o da barba rala levantou-se da cadeira para tentar socorre-lo, tropeçou no pé da mesa, caiu bruscamente batendo a nuca na quina da mesa. Foi ao chão desfalecido.
- Oh! O autor está nos matando! – gritou a menina enlouquecida em seu desespero.
- Ah não! O que vamos fazer? – perguntou o número 1 – Narrador! Nos ajude!
Não posso fazer nada! Parece que o autor está enlouquecidamente nervoso! Ele matará a todos!
Então, o cachorro pulou em cima da garota e começou a devorar seu peito. Comeu a carne dela até o fundo do peito, até o coração, fazendo-a gritar e acabando por mata-la.
- Não! – desesperou-se o número 1.
Corra, número 1!
Mas não adiantava mais. Uma dor violenta consumiu a face do número 1, e, então ele percebeu que não tinha mais nariz nem boca. Ele debateu-se sem conseguir respirar, até morrer.

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